O mistério da bondade divina
No Evangelho de hoje,
deparamo-nos com a parábola do joio. A palavra “parábola” vem do grego,
cujo significado é “por junto duas coisas, comparar”. A definição
popular é que se trata de uma história terrena que demonstra uma verdade
celestial. Difere do conto ou da fábula, pois a história da parábola
pode já ter sucedido ou pode ser real em qualquer momento futuro. Já o
conto ou a fábula, não.
O joio é uma planta muito parecida com o trigo antes de se formar a espiga.
A espiga do joio é muito mais fina do que
a do trigo e, frequentemente, está infectada com fungos que a tornam
negra e venenosa. Também a própria gramínea tem, como o esporão do
centeio, um componente venenoso. O joio só se distingue do trigo quando a
espiga amadurece, sendo que a espiga do joio é formada por grãos pretos
como de carvão.
O termo de comparação desta parábola é o
Reino dos Céus. Apesar do título, ele tem como assento a terra, não no
sentido geográfico, mas humano, por isso é mais exato traduzi-lo por
“Reinado”.
O povo que o forma não é o conjunto dos
bem-aventurados do Céu, mas refere-se à Igreja da Terra, formação
visível da comunidade dos fiéis que escolheram Jesus como seu Senhor e
que estão misturados no campo do mundo com pessoas que não são crentes
ou têm outras ideologias, sem descartar que, dentro da Igreja, podem
existir também os escandalosos e os que praticam a iniquidade, pois, na
explicação dada por Jesus aos discípulos, Ele transforma a parábola em
alegoria.
A parábola do joio é própria de Mateus,
sem que encontremos um paralelo nos outros Evangelhos. Somente em 1 João
3,10 encontramos a oposição entre filhos de Deus e filhos do diabo.
Estes são os que não praticam a justiça e não amam o seu irmão. A
explicação da parábola revela, em parte, o mistério da iniquidade de que
fala Paulo em 2Ts 2,7. Esta iniquidade é o fruto de se rejeitar a Lei –
ou de ignorá-la! – e pode ser traduzida por maldade ou perversidade.
Quem é o promotor dessa iniquidade é o maligno, o diabo. Nele, nasce a
maldade e oposição ao Reino. Porém, existe o mistério de por que Deus
permite o mal e de como combater o mesmo.
Sendo Todo-Poderoso e de bondade
infinita, como o Senhor permite que o mal triunfe de modo a parecer que a
parte maligna seja tão forte quanto a parte que Jesus diz dos filhos do
Reino? Por isso existem ideologias em que ao Deus do bem se opõe o deus
do mal. Ou será que satanás é tão forte quanto Deus? No livro de Jó, a
Sagrada Escritura dá uma resposta parcial – quando da instigação de
satanás – na qual Javé permite a experimentação do justo com a única
exceção da vida.
Seria melhor chamar de “mistério da
bondade” ao que se costuma expor como mistério da iniquidade. Perguntar a
Deus por que não destrói o mau é o mesmo que perguntar ao Pai por que
não mata o filho rebelde. O Senhor espera que este filho volte, um dia,
arrependido para a casa que sempre será seu lar.
Na realidade, aqueles que agem na anomalia estão dissipando os seus bens. “Não sabem o que fazem”,
dirá Jesus. O joio não se distingue do trigo, assim como uma árvore
estéril não se distingue de uma boa, a não ser na época dos frutos.
Deus é o Pai que faz com que o sol nasça
também para os maus e a chuva fertilize os campos dos incrédulos. No fim
– e unicamente no fim – a Sua justiça acompanhará em parte a Sua
misericórdia. Para os que receberão uma eternidade de dor, é justo que
recebam uma vida temporal cheia de triunfos e alegrias. Como Jesus
disse, na parábola do pobre Lázaro, os papéis serão invertidos: “Lembra-te que tu recebeste os bens e Lázaro, pelo contrário, só os males”.
A influência do diabo é a de semear o
joio: propagar que a única maneira de alcançar a felicidade é saber
viver na abundância e no prazer, pois não existe o “além” a quem
tenhamos que prestar contas de nossas condutas. É difícil, diante desse
programa de vida, pregar uma existência de sacrifício e renúncia, como
Jesus pede a Seus discípulos. Por isso, o mal se converte em “bem
aparente” e o verdadeiro bem está oculto aos olhos da multidão.
Livra-me, Senhor, desta semente maligna e abra-me à boa semente que é a Sua Palavra.
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