Como fazemos uma experiência íntima e profunda com Deus?
Após o “discurso da missão” e o envio dos
discípulos ao mundo para continuar a obra salvífica de Jesus, Mateus
coloca, no seu Evangelho, uma seção sobre as reações e as atitudes que
várias pessoas e grupos tomaram frente a Jesus e à Sua proposta de
“Reino”.
Nos versículos anteriores ao texto que
hoje nos é proposto, Jesus havia dirigido uma veemente crítica aos
habitantes de algumas cidades situadas à volta do lago de Tiberíades,
porque foram testemunhas da Sua proposta de salvação, mas se mantiveram
indiferentes. Estavam demasiado cheios de si próprios, instalados nas
suas certezas, calcificados nos seus preconceitos e não aceitavam se
questionar, a fim de abrir o coração à novidade de Deus.
Agora, Jesus se manifesta convicto de que
essa proposta, rejeitada pelos habitantes das cidades do lago,
encontrará acolhimento entre os pobres e marginalizados, desiludidos com
a religião “oficial” e que anseiam pela salvação que Deus tem para lhes
oferecer.
Hoje, estamos diante de duas “sentenças”
que, provavelmente, foram pronunciadas em ambientes diversos deste que
Mateus nos apresenta.
A primeira sentença é uma oração de
louvor que Jesus dirige ao Pai, porque Ele escondeu estas coisas aos
sábios e inteligentes e as revelou aos pequeninos. Os “sábios e
inteligentes” são, certamente, esses “fariseus” e “doutores da Lei”, que
absolutizavam a Lei, que se consideravam justos e dignos de salvação,
porque cumpriam escrupulosamente a Lei, que não estavam dispostos a
deixar pôr em causa esse sistema religioso em que se tinham instalado e
que – na sua perspectiva – lhes garantia automaticamente a salvação.
Os “pequeninos” são os discípulos, os
primeiros a responder positivamente à oferta do “Reino”; e são também
esses pobres e marginalizados, ou seja, os doentes, os publicanos, as
mulheres de má vida, o “povo da terra” que Jesus encontrava, todos os
dias, pelos caminhos da Galileia, considerados malditos pela Lei, mas
que acolhiam, com alegria e entusiasmo, a proposta transformadora de
Jesus.
A segunda sentença relaciona-se com a
anterior e explica o que é que foi escondido aos “sábios e inteligentes”
e revelado aos “pequeninos”. Trata-se, duma “experiência profunda e
íntima” de Deus. Os “sábios e inteligentes” estavam convencidos de que o
conhecimento da Lei lhes dava o conhecimento de Deus. A Lei era uma
espécie de “linha direta” para Deus, por meio da qual eles ficavam a
conhecer o Senhor, a Sua vontade, os Seus projetos para o mundo e para
os homens; por isso, apresentavam-se como detentores da verdade,
representantes legítimos de Deus, capazes de interpretar a vontade e os
planos divinos.
Jesus deixa claro que quem quiser fazer
uma experiência profunda e íntima de Deus tem de aceitá-Lo e segui-Lo.
Ele é “o Filho” e só Ele tem uma experiência profunda de intimidade e de
comunhão com o Pai. Quem rejeitar Jesus não poderá conhecer o Pai.
Quando muito, encontrará imagens distorcidas de Deus e, depois, julgará o
mundo e os homens. Mas quem aceitar Jesus e O seguir, aprenderá a viver
em comunhão com o Senhor, na obediência total aos Seus projetos e na
aceitação incondicional dos Seus planos.
Na verdade, os critérios de Deus são bem
estranhos, vistos “aqui de baixo”, com as lentes do mundo. Nós, homens,
admiramos e incensamos os sábios, os inteligentes, os intelectuais, os
ricos, os poderosos, os bonitos e queremos que sejam eles a dirigir o
mundo, a fazer as leis que nos governam, a ditar a moda ou as ideias, a
definir o que é correto ou não o é. Mas Deus diz que as coisas
essenciais são muito mais depressa percebidas pelo “pequeninos”. São
eles que estão sempre disponíveis para acolher o Senhor e aos Seus
valores e para arriscar-se nos desafios do Reino.
Quantas vezes os pobres, os pequenos, os
humildes são ridicularizados, tratados como incapazes pelos nossos
“iluminados” fazedores de opinião, que tudo sabem e que procuram impor
ao mundo e aos outros as suas visões pessoais e os seus pseudovalores. A
Palavra de Deus ensina: a sabedoria e a inteligência não garantem a
posse da verdade; o que a garante é ter um coração aberto a Deus e às
Suas propostas.
Como chegamos a Deus? Como percebemos o
Seu “rosto”? Como fazemos uma experiência íntima e profunda com Ele? Por
meio da Filosofia? Em um discurso racional coerente? É passando todo o
tempo disponível na igreja, mudando as toalhas dos altares? O Evangelho
responde: “conhecemos” Deus por meio de Jesus.
Jesus é o Filho que conhece o Pai; só
quem O segue e procura viver como Ele pode chegar à comunhão com Deus.
Há católicos que, por serem padres como eu, por terem feito catequese,
por irem à Missa aos domingos e fazer parte do conselho pastoral da
paróquia, acham que conhecem Deus. Atenção: só “conhece” o Senhor quem é
simples e humilde, e está disposto a seguir Jesus no caminho da entrega
ao Pai e da doação da vida aos homens. É no seguimento de Jesus – e só
aí – que nos tornamos filhos de Deus.
Pai, que a arrogância dos sábios e doutos
jamais contamine meu coração. Fazendo-me pequenino, que eu esteja em
condições de acolher a Sua revelação na pessoa de Seu Filho, Jesus
Cristo.
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