Pecar é destruir o próprio ser e caminhar para o nada
O Catecismo da Igreja Católica (CIC) nos mostra toda a gravidade do pecado:
“Aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave do que o pecado e nada tem
consequências piores para os próprios pecadores, para a Igreja e para o
mundo inteiro” (§ 1488).
São
palavras fortíssimas, pois mostram que não há nada pior do que o
pecado. Por outro lado, o Catecismo afirma que ele é uma realidade: “O
pecado está presente na história dos homens: seria inútil tentar
ignorá-lo ou dar a esta realidade obscura outros nomes” (CIC, §386).
Deus disse a Santa Catarina de Sena, em 'O Diálogo':
”O pecado priva o homem de Mim, Sumo
Bem, ao tirar-lhe a graça”. São Paulo, numa frase lapidar, explica toda
a hediondez do pecado e razão de todos os sofrimentos deste mundo: “O
salário do pecado é a morte” (Rom 6,23).
Tudo o que há de mal na história do homem e do mundo é consequência do pecado que
começou com Adão. “Por meio de um só homem, o pecado entrou no mundo e,
pelo pecado, a morte, e assim a morte passou a todos os homens, porque
todos pecaram” (Rom 5,12). O Catecismo ensina que: “A morte corporal, à
qual o homem teria sido subtraído se não tivesse pecado (GS,18), é assim
o último inimigo do homem a ser vencido” (1Cor 15, 26).
Santo
Agostinho dizia que: "É desígnio de Deus que toda alma desregrada seja
para si mesma o seu castigo”, e acrescentava: “O homem se faz réu do
pecado no mesmo momento em que decide cometê-lo.” Sintetizava tudo
dizendo que “pecar é destruir o próprio ser e caminhar para o nada”. Ele
dizia de si mesmo nas confissões: “Eu pecava, porque em vez de procurar
em Deus os prazeres, as grandezas e as verdades, procurava-os nas suas
criaturas: em mim e nos outros. Por isso precipitava-me na dor, na
confusão e no erro.”
Toda a razão de ser da
Encarnação do Verbo foi para destruir, na sua carne, a escravidão do
pecado. “Como imperou o pecado na morte, assim também imperou a graça
por meio da justiça, para a vida eterna, através de Jesus Cristo, nosso
Senhor”. (Rom 5,21)
O
demônio escraviza a humanidade com a corrente do pecado, mas Jesus vem
exatamente para quebrá-la. São João deixa bem claro na sua carta:
“Sabeis que Ele se manifestou para tirar os pecados” (1Jo 3,5). “Para
isto é que o Filho de Deus se manifestou, para destruir as obras do
diabo” (1 Jo 3,8). Essa “obra do diabo” é exatamente o pecado, que nos
separa da intimidade e da comunhão com Deus e nos rouba a vida
bem-aventurada.
Com a Sua Morte e Ressurreição triunfante, Jesus nos libertou das cadeias do pecado
e, por Sua graça, podemos agora viver uma nova vida. É o que São Paulo
nos ensina na Carta aos Colossenses: “Se, pois, ressuscitastes com
Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de
Deus” (Col 3,1). Aos romanos ele garante: “Já não pesa mais condenação
para aqueles que estão em Cristo Jesus. A Lei do Espírito da vida em
Cristo Jesus te libertou da lei do pecado e da morte” (Rom 8,1).
Aos gálatas o apóstolo diz: “É
para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei firmes, portanto, e
não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão” (Gal 5,1). A
vitória contra o pecado custou a vida do Cordeiro de Deus. São João
Batista, o precursor, aquele que foi encarregado por Deus para
apresentar ao mundo o Seu Filho, podia fazê-lo de muitas formas: “Ele é o
Filho de Deus”, ou, “Ele é o esperado das nações”, como diziam; ou
ainda: “Ele é o Santo de Israel”, ou quem sabe: “Eis aqui o mais belo
dos filhos dos homens”, etc.; mas, em vez de usar essas expressões que
designavam o Messias que haveria de vir, João preferiu dizer: “Eis o
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29).
Aqueles que querem dar outro sentido à vida de Jesus, que não o d'Aquele que “tira o pecado do mundo”, esvaziam
a Sua Pessoa, a Sua missão e a missão da Igreja. A partir daí, a fé é
esvaziada e toda a “sã doutrina” (1Tm4,6) é pervertida. Eis o perigo da
“teologia da libertação”, que exigiu a intervenção direta da Santa Sé e
do próprio Papa João Paulo II, pois, na sua essência, esta “teologia”
substitui o Cristo Redentor do pecado por um Cristo apenas libertador
dos males sociais e terrenos, reinterpreta o Evangelho e o Cristianismo
dentro de uma exegese e de uma hermenêutica que não é aceita pelo
Magistério da Igreja.
Assim
como a missão de Cristo foi libertar o homem do pecado, a missão da
Igreja, que é o Seu Corpo místico, a Sua continuação na história, é
também a de libertar a humanidade do pecado e levá-la à santificação.
Fora disso, a Igreja se esvazia e não cumpre a missão dada pelo Senhor.
"Jesus" quer dizer, em hebraico, “Deus salva”. Salva dos pecados e da
morte. Na anunciação, o anjo disse a Maria: "… lhe porás o nome de
Jesus" (Lc 1,31).
A
José, o mesmo anjo disse: “Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome
de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1,21). A
salvação se dá pelo perdão dos pecados; e já que “só Deus pode perdoar
os pecados” (Mc 2, 7), Ele enviou o Seu Filho para salvar o Seu povo dos
pecados. “Foi Ele quem nos amou e nos enviou Seu Filho como vítima de
expiação pelos nossos pecados” (1Jo 4,10). “Este apareceu para tirar os
pecados “ (1Jo 3,5).
Isto mostra que a grande missão de Jesus era, de fato, “tirar o pecado do mundo”,
e Ele não teve dúvida de chegar até a morte trágica para isto. Agora,
Vivo e Ressuscitado, Vencedor do pecado e da morte, pelo ministério da
Igreja, dá o perdão a todos os homens. Jesus disse aos apóstolos na
Última Ceia: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14,15). Guardar os mandamentos é a prova do amor por Jesus. Quem obedece aos Seus mandamentos, foge do pecado.
O
grande São Basílio Magno (329-379), bispo e doutor da Igreja, ensina,
em seus escritos, que há três formas de amar a Deus: a primeira é como o
mercenário, que espera a retribuição; a segunda, é como escravo que
obedece, por medo do chicote, o castigo de Deus; e o terceiro é o amor
filial, daquele que obedece, porque, de fato, ama o Pai. É assim que
devemos amar o Senhor; e, a melhor forma de amá-Lo é repudiando todo
mal.
Os Dez Mandamentos são a salvaguarda contra o pecado. Por isso, o primeiro compromisso de quem almeja a santidade deve ser o compromisso de viver, na íntegra, os mandamentos. Diante da gravidade do pecado, o autor da Carta aos Hebreus chega a dizer aos cristãos: “Ainda não resististes até ao sangue na luta contra o pecado” (Hb 12,4). Nesta luta, justifica-se chegar até ao sangue, se for preciso, como Jesus o fez.
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