Condene o pecado, mas não o pecador
Parece estranho alguém se levantar e se
pôr em briga contra si mesmo. Mas foi, é e será sempre a exigência de
Jesus. É preciso fazer guerra contra nós mesmos, a fim de destruir em
nós o causador da nossa morte.
No “Ai de vós!” temos a
continuidade da contundente denúncia de Jesus quanto a incoerência e a
hipocrisia dos escribas e fariseus que integravam a cúpula religiosa de
Israel.
Se quiser avançar corretamente, com
discrição e dando frutos no caminho da verdadeira religião, você deve
ser austero e rígido consigo mesmo e sempre alegre e aberto para com os
outros, esforçando-se, no seu coração, por caminhar nos cumes da
retidão, sabendo inclinar-se, com bondade, para com os mais fracos. Numa
palavra, perante o juízo da sua consciência, você deve moderar os
rigores da justiça, de tal forma que não seja duro para com os
pecadores, mas acessível ao perdão e indulgente.
Considere o seu pecado como perigoso e
mortal; o dos outros, considere-o como fragilidade da condição humana. A
falta que, em você, considera digna de severa correção, pensa que, nos
outros, não merece mais do que uma pequena admoestação. Não seja “mais
justo do que o Justo”. Receie cometer o pecado, mas não hesite em
perdoar ao pecador. A verdadeira justiça não é a que precipita as almas
dos irmãos no laço do desespero. É preciso sabermos que, se a nossa vida
não nos parece tão brilhante, a dos outros não nos dever parecer toda
feia. E como seria bom se fôssemos para nós mesmos juízes severos!
Aposto com você que as faltas dos outros não encontrariam em nós
censores tão rigorosos.
Partamos para a guerra como Josué.
Tomemos de assalto a cidade mais forte deste mundo, o meu e o seu
coração de onde está toda a malícia. Destruamos as suas muralhas
orgulhosas. Só então encontraremos à nossa volta o caminho que é preciso
tomar, o campo de batalha e o inimigo a derrubar. Quem é? Você já sabe:
é o pecado. O que falta é descobrir onde está e quais são as suas
artimanhas.
Portanto, embora lhe pareçam estranhas as
minhas palavras, elas são verdadeiras: limite a sua procura a si mesmo.
Está em você o combate que irá travar, no seu interior, o edifício de
malícia que você tem de minar; o seu inimigo sai do fundo do seu
coração. Não sou eu quem o diz, mas Cristo: “É do coração que vêm os
maus pensamentos, os assassínios, os adultérios, as impurezas, os
roubos, os falsos testemunhos, as palavras injuriosas” (Mt 15,19).
Percebe qual é o poder deste exército
inimigo que avança contra você a partir do fundo do seu coração? Ei-los!
Os inimigos que temos de massacrar no primeiro combate, de eliminar na
primeira linha da batalha. Se formos capazes de derrubar as muralhas
deles e exterminá-los até que não reste nenhum para contar, nenhum para
recobrar o ânimo (cf. Js 11,14), se não ficar um único para retomar vida
e ressurgir nos nossos pensamentos, então Jesus dar-nos-á o grande
repouso.
Jesus, não querendo ser alvo de censura
como os fariseus, no Evangelho de hoje – que se preocupavam com as
coisas externas deixando o essencial para segundo plano – vos peço:
“Dai-me forças para ser guerreiro de mim mesmo, para transformar o meu
coração. Dai-me um coração puro para que do meu interior brotem a
honestidade, a verdade, a justiça, a misericórdia e a fidelidade. E,
assim, eu possa ser o caminho para os perdidos, a luz para os que estão
nas trevas, a voz para os mudos nas coisas de Deus, a vez para os
excluídos da convivência humana, a alegria para os tristes, o pão para
os famintos, a paz para os que estão em guerra, amor para os que semeiam
ódio e vingança, levando todos os homens para Vós que sois o Caminho, a
Verdade e a Vida do homem”.
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