A graça da renúncia amorosa
Meus caros irmãos e irmãs,
uma das temáticas do Evangelho segundo São João é a hora de Cristo, a
hora da glória. Já estando em Jerusalém e sendo procurado por gregos, o
Senhor exclama, talvez sem a compreensão imediata do apóstolo Filipe e
André: “Em verdade, em verdade, vos digo: se o grão de trigo que cai na
terra não morre, fica só. Mas, se morre, produz muito fruto” (Jo 12,
24).
Jesus Cristo chegou ali, mais do que para
participar, mais uma vez, da Páscoa dos judeus, mas para celebrar e
estabelecer a Sua hora, a Sua Páscoa gloriosa, inaugurando,
potencialmente, a nossa páscoa. Pela Sua entrega total à vontade do Pai,
que beneficiou a humanidade toda com a salvação! Pela Sua Páscoa,
gregos e judeus, ou seja, todos os povos poderão ser redimidos e
participarem da Páscoa Eterna.
Uma maneira ordinária e eficaz para
sermos atingidos por este dom salvífico foi registrado pelo Evangelista
no versículo seguinte: “Quem se apega à sua vida, pede-a; mas quem não
faz conta de sua vida neste mundo, há de guardá-la para a vida eterna”
(Jo 12, 25). De fato, Aquele que abraçou a todos pela Sua Encarnação,
Vida, Paixão, Morte e Ressurreição, pede que seja abraçado também
radicalmente. Para isto é preciso estar desapegado de tudo e de todos,
que não significa descomprometido com o Reino, a Igreja e a humanidade.
O doutor e místico da Igreja, São João da
Cruz, ensinava que o verdadeiro amor consiste “na prática da renúncia
perfeita e o sofrer pelo Amado”. Este testemunho de pobreza radical, sem
dúvida, é dom do Alto, como a própria vivência de uma fé madura e em
constante purificação. E a quem Deus nega as suas graças? Se desejamos,
então…humildemente peçamos!
Jesus não foi para Jerusalém somente para
honrar o Pai das Misericórdias, mas, na força do Espírito Santo, viveu
uma comunhão obediencial plena, a fim de também conquistar para nós, por
Seus méritos, o direito de sermos, um dia, honrados pelo Pai,
independente dos reconhecimentos humanos. no entanto, poderíamos dizer:
“Eu não quero qualquer tipo de honrarias?”, mas este tipo de honra não
massageia o nosso ego nem alimenta nosso orgulho, ao contrário,
corresponde à vontade de Deus a nosso respeito: “Se alguém me serve, meu
Pai o honrará” (Jo 12, 26). Esta honra é expressa do amor de um Pai que
quer recompensar os filhos amados, salvos pelo Filho Amado!
Por isso todo e qualquer sofrimento que
passarmos para viver aqui como verdadeiros filhos, servos e amigos de
Cristo Pascal, será revertido em glória um dia. Para tal será preciso
permanecer até o fim na busca orante e repleta do exercício da renúncia
amorosa, da maneira ensinada também por São João da Cruz, acima citado.
Portanto, existirá um caminho mais estreito e seguro do que este: “Se
alguém quer me servir, siga-me; e onde eu estiver, estará também aquele
que me serve” (Jo 12, 26).
Por fim, diante da nossa pequenez e
grande tendência a nos apegarmos a tudo o que é visível e palpável, como
também prazeroso, no risco de perdermos o essencial salvífico e pascal,
prossigamos o caminho como discípulos e missionários, recordando uns
aos outros as palavras que nos recoloca humildemente em condições de
luta e recompensa: “Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a
força se realiza plenamente” (2Cor 12, 9).
Padre Fernando Santamaria
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