O olhar que evangeliza
Irmãos e irmãs, diante do
Evangelho de hoje (cf. Jo 1,45-51), percebe-se o quanto o primeiro
contato de muitos com Jesus foi mediado. Filipe encontrou-se com o
Mestre; ou melhor, Filipe foi encontrado por Ele (cf. Jo 1,43-44) e, por
consequência, acabou promovendo o encontro de Natanael com o Senhor.
Uma outra coisa interessante chama a
atenção naquele acontecimento decisivo da história de Natanael: Jesus,
como o Profeta, conhece as pessoas e as surpreende com palavras de graça
– ainda que, como muitos, Natanael não desse crédito aos nazarenos.
Disse Jesus a Natanael: “Este é um verdadeiro israelita, no qual não há falsidade!”. “Antes que Filipe te chamasse, quando estavas debaixo da figueira , eu te vi”
(Jo 1,47-48). Natanael ficou tão impactado com aquele olhar – de
misericórdia e verdade do Verbo Encarnado -, que o penetrou com ternura e
sem preconceitos, os quais são, na maior parte das vezes, compostos de
ignorância e superficialidades.
Assim, Natanael “desmoronou”. Foi
desarmado pelo olhar de Cristo e não demorou para entender, com o
auxílio do Espírito Santo, o quanto foi providencial a presença e
iniciativa de Filipe, quem serviu de “ponte” entre ele e “o Filho de
Deus…Rei de Israel” (Jo 1,49).
Também Natanael, iluminado, pôde
reconhecer, com o coração e os lábios, os títulos acima citados, além de
ouvir do único Mediador da Salvação palavras de vida eterna que chegam
até nós: “Em verdade, em verdade vos digo: vereis o céu aberto e os
anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem!” (Jo 1,51).
Frente a tão grandes testemunhos, alguns
questionamentos surgem em nós: “Tenho procurado promover um encontro
pessoal e transformador de Jesus com os meus conhecidos a exemplo do que
Filipe fez?” “Intercedo para que isto aconteça na vida das pessoas,
pelo menos as conhecidas?” Ou ainda: “Uma vez que já iniciei o processo
pessoal de conversão, tenho prestado atenção com que tipo de olhar o
Senhor Jesus me vê?” E: “Não existem pessoas próximas a mim, e que já
não recorrem à visão de Cristo, para se ver e ver toda a realidade?”
Não são auto-acusações e, muito menos,
“dedo apontado” a cada um de nós. Mas uma oportunidade de nos revermos à
luz do Evangelho que constantemente nos convida à revisão (conversão)
em relação a Ele e ao próximo. Mesmo que alguém olhe para você – e para a
sua história – e diga, num olhar que seja: “Daí não virá coisa boa!”,
não se deixe impressionar. Como Jesus, continue indo ao encontro destes
nossos irmãos e irmãs!
Sejamos unidos numa só fé; sejamos um
farol que sinaliza em meio a mares revoltos, para onde é preciso rumar a
fim de encontrar um porto seguro. É claro que esta fé é essencialmente
eclesial para conseguir comunicar a Luz Verdadeira (cf. Jo 1,9) em meio
às trevas e nevoeiros do relativismo e individualismo que se alastram no
mundo.
Portanto, alegremo-nos, hoje e sempre, se
já fazemos parte da barca de Filipe e Natanael – que é a mesma de
Pedro. Mas saibamos que ser membro desta embarcação tão especial nos
convoca, como Igreja, a não desistirmos da busca da verdade e a sermos
uns para os outros intercessores e promotores do encontro pessoal com
Cristo, no poder do Espírito Santo.
Ele, que a todos vê, de todos sabe e a todos nos envia com um olhar de misericórdia e verdade.
Padre Fernando Santamaria – Comunidade Canção Nova
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