O dia da verdade chegará!
Irmãos e irmãs, quem de nós está livre de
comparações? Às vezes, nós próprios nos tornamos os mais comparativos.
Enquanto a maturidade fraterna, em meio aos conflitos relacionais, pedem
humildade e desprendimento, São Paulo, neste sentido, testemunha: «Quanto
a mim, pouco me importa ser julgado por vós ou por alguma instância
humana. Nem eu me julgo a mim mesmo. É verdade que minha consciência não
me acusa de nada. Mas isto não quer dizer que eu deva ser considerado
justo. Quem me julga é o Senhor» (1Cor 4, 3-5).
Claro que São Paulo foi aprendendo e
amadurecendo a partir de uma liberdade que escolhe a centralidade no
Cristo e a docilidade ao Espírito Santo para, então, corresponder à
vontade do Pai do Céu. Penso que o grande segredo dos santos, na
resolução interior e contributo exterior nos desafios que tendem à
desunião, encontra-se neste relacionamento trinitário com o Deus Uno e
três vezes Santo.
Deus é comunhão e quem d’Ele se aproxima
torna-se mais e mais ponte de comunhão. Por isso, em meio a tantas
pressões e julgamentos infundados sobre eles (juízos temerários),
conseguiram dar uma resposta diferente, ou seja, não disseram a eles
mesmos: “Se a tal pessoa me julga, então eu também tenho o direito de
julgá-la!” Neste caso e em todos os outros, Jesus Cristo será sempre a
nossa Universidade.
No Evangelho (Lc 5, 33-39), os discípulos
de Jesus e, indiretamente, Ele próprio, são comparados com os
seguidores de São João Batista. A reação de Jesus foi espetacular, pois
não teceu um juízo negativo sobre quem comparava nem sobre o precursor
João (amigo do Esposo). Ele aproveita para se autorrevelar como “o Noivo
de uma Igreja desposada por Deus” e também revela o grande convite que
este Deus amoroso faz à um festim que começa já no tempo. Um esboço e
antecipação do que será plenamente no cumprimento escatológico do Reino.
Retornando a temática dos juízos
temerários, as palavras de São Paulo e a sabedoria do Espírito a jorrar
de Jesus Cristo nos questiona num nível não somente reativo, mas também
em relação àquilo que de fato possui um real valor para mim e cada um de
nós, o nível da sensibilidade aos valores. Neste sentido é que podemos e
devemos nos deixar interpelar pelo Espírito da Verdade quando a nossa
pessoa, mais do que os nossos atos, forem atingidos por comentários
injustos, comparações desmedidas, calúnias e julgamentos.
Creio que, nestes momentos dolorosos, o
Espírito Santo pergunta às nossas consciências: “Por que perder tempo,
energia espiritual e psíquica com aquilo que é próprio do Reino da
mentira? Então, por que dar valor e atenção àquilo que não merece valor
nem atenção?” De fato, irmãos e irmãs, o que realmente merece a nossa
atenção e valor corresponde ao Reino da Verdade. Nele, encontramos o
Noivo-Esposo, que nos serve o Vinho Novo e, pelo Espírito Santo, nos
ajuda a viver a Nova e Eterna Aliança, como novo Povo de Deus (cf. Lc 5,
35-39).
Claro que isto não pode excluir a
denúncia como importante dimensão profética nem nos dispensar do
exercício da correção fraterna, mas nada disso será frutuoso, se o nosso
coração não estiver aberto à dinâmica do Reino da Verdade que é,
simultaneamente, Reino da Misericórdia. O Deus Misericordioso está
pronto para perdoar quem nos ofendeu. Por que eu – pecador – deveria
estar fechado ao perdão?
Ele sabe e conhece, por dentro, a
história e as misérias de quem julga e é julgado. Também por isso está
disposto a converter e curar os corações de quem fere e de quem é
ferido. Se alguém se sente lesado em sua boa fama, ou até roubado, não
convém deixar que roubem a esperança de quem aguarda em paz, sem rancor e
ressentimento, o dia em que a Verdade varrerá este mundo: «Portanto
não queirais julgar antes do tempo. Aguardai que o Senhor venha. Ele
trará à luz o que estiver escondido nas trevas e manifestará os projetos
dos corações. Então, cada um receberá de Deus o devido louvor» (1Cor 4, 5).
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