Mas o Senhor quis deixar-nos as suas
últimas palavras, já pregado na Cruz. Sabemos que as últimas palavras de
alguém, antes da morte, são aquelas que expressam as suas maiores
preocupações e recomendações. A Igreja sempre guardou essas “Sete
Palavras” com profundo amor, respeito e devoção, procurando tirar delas
todo o seu riquíssimo significado.
1 – “Pai, perdoai-lhes porque eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34)
Com essas palavras Jesus selava todo o
seu ensinamento sobre a necessidade de “perdoar até os inimigos” ( Mt
5,44). Na Cruz o Senhor confirmava para todos nós que é possível, sim,
viver “a maior exigência da fé cristã”: o perdão incondicional a todos.
Na Cruz Ele selava o que tinha ensinado:
“Não resistais ao mau. Se alguém te feriu
a face direita, oferece-lhe também a outra… Amai os vossos inimigos,
fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem.
Deste modo sereis filhos do vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol
tanto sobre os maus como sobre os bons” (Mt 5,44-48). “Se não perdoardes
aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará”(Mt 6,14).
Certa vez Pedro perguntou-Lhe: “Senhor,
quantas vezes devo perdoar meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até
sete vezes?” “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”
(Mt 18, 21-22).
2 – “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43)
Com essas palavras de perdão e amor ao
“bom” ladrão, Jesus nos mostra de maneira inequívoca o oceano ilimitado
de sua misericórdia. Bastou Dimas confiar no Coração Misericordioso do
Senhor, para ter-lhe abertas, de imediato, as portas do Céu.
Não é à toa que a Igreja ensina que o pior pecado é o da desesperança, o
de não confiar no perdão de Deus, por achar que o próprio pecado possa
ser maior do que a infinita misericórdia do Senhor. Uma grande tentação
sempre será, para todos nós, não confiar na misericórdia de Deus. Santa
Teresinha do Menino Jesus dizia: “como a misericórdia e a bondade do
coração de Jesus são pouco conhecidas”! “Jesus, eu confio em Vós”.
3 – “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” (Mt 27,46)
Estas palavras, que também estão no Salmo
21, mostram todo o aniquilamento do Senhor. É aquilo que São Paulo
exprimiu muito bem aos filipenses: “aniquilou-se a si mesmo,
assumindo a condição de escravo” (Fil 2,8). Jesus sofreu todo o
aniquilamento possível de se imaginar: moral, psicológico, afetivo,
físico, espiritual, enfim, como disse o profeta: “foi castigado por
nossos crimes e esmagado por nossas iniquidades…” (Is 53,5). Depois de
tudo isto “ninguém tem mais o direito de duvidar do amor de Deus”. Será
uma grande blasfêmia alguém dizer que Deus não lhe ama, depois que Jesus
sofreu tanto para assumir em si o pecado de todos os homens e de cada
homem. Paulo disse aos Gálatas: “Ele morreu por mim”(Gal 5,22).
4 – “Mulher, eis aí o teu filho”…“Filho, eis aí tua Mãe” (Jo19,26)
Tendo entregado-se todo pela nossa
salvação, já prestes a morrer, Jesus ainda nos quiz deixar o que Ele
tinha de mais precioso nesta vida, a sua querida Mãe. E como Jesus
confiava nela! A tal ponto de querê-la para nossa Mãe também. Todos
aqueles que se esquecem de Maria, ou, pior ainda, a rejeitam, esquecem e
rejeitam também a Jesus, pois negam receber de Suas mãos, na hora
suprema da Morte, o seu maior Presente para nós.
5 – “ Tenho sede! ” (Jo 19,28)
Dizem os Padres da Igreja que esta “sede”
do Senhor mais do que sede de água, é sede de almas a serem salvas, com
o seu próprio Sacrifício que se consumava naquela hora. E esta “sede”
de Jesus continua hoje, mais forte do que nunca. Muitos ainda, pelos
quais ele derramou o seu sangue preciosíssimo, continuam vivendo uma
vida de pecado, afastados do amor de Deus e da Igreja. Quantos e
quantos batizados, talvez a maioria, nem sequer vai à Missa aos
domingos, não sabe o que é uma Confissão há anos, não comunga, não
reza, enfim, vive como se Deus não existisse…
6 – “Tudo está consumado” (Jo 19,30)
Nos diz São João: “sabendo Jesus que tudo
estava consumado…”, isto é, Jesus tinha plena consciência que tinha
cumprido “toda” a sua missão salvífica, conforme o desígnio santo de
Deus. Enquanto tudo não estava cumprido, Ele não “entregou” o seu
espírito ao Pai. Assim, fica bem claro que a nossa salvação depende
agora de nós, porque a parte de Deus já foi perfeitamente cumprida até
às últimas conseqüências.
7 – “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46)
Confiando plenamente no Pai, que Ele
fizera também nosso Pai ao assumir a nossa humanidade, Jesus volta para
Aquele que tanto amava. É o seu destino, o coração do Pai; e é o nosso
destino também. Ao voltar para o Pai, Jesus indica o nosso fim; o seio
do Pai, o Céu.
“Vós sois cidadãos do Céu” (Fil 3,20),
grita o Apóstolo; por isso, como diz a Liturgia, é preciso “caminhar
entre as coisas que passam, abraçando somente as que não passam”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário