Pai nosso que estais nos céus!
Hoje ousamos fazer para Jesus o mesmo pedido: “Senhor, nos ensine a orar, como João ensinou os discípulos dele!” E ficamos à espera de que Ele sussurre aos ouvidos do nosso coração as mesmas palavras daquele dia: “Quando rezardes dizei: Pai nosso”.
“Pai nosso que estais nos céus”. Nas religiões antigas não era muito habitual dirigir-se a Deus como Pai. Mas, no Antigo Testamento, Deus era invocado com esse título, dada a Sua relação especial com Israel, salvo da escravidão e protegido com evidentes sinais de intervenções divinas. Jesus é o Filho de Deus.
Aqueles que O seguem participam dessa filiação divina. Por isso, O podem chamar Pai, “abbá”, ou seja, papá, paizinho, pai querido.
“Santificado seja o vosso nome”. Na linguagem bíblica, o nome é a pessoa. Invocar o nome de Deus é invocar a Deus. Se Deus é o Santo por excelência, que significa pedir que seja santificado? Significa pedir que se manifeste, se dê a conhecer e cumpra as Suas promessas. Significa também pedir que a nossa vida cristã coerente leve outros à fé. Uma vida cristã incoerente pode levar à blasfêmia do nome de Deus.
“Venha a nós o vosso Reino”. O Reino ou reinado de Deus significa a nova ordem ou estado das coisas, na qual a Sua soberania é reconhecida e aceita. Este Reino é atualidade e presença, a partir da presença de Jesus. Mas pede-se o seu reconhecimento no presente, e a sua plena revelação no futuro.
“O pão nosso de cada dia nos dai hoje”. Pede-se a Deus poder para satisfazer as necessidades de cada dia e, provavelmente, o pão que é o próprio Cristo assimilado pela fé, o Pão da Eucaristia.
“Perdoai-nos as nossas faltas”. Todos temos faltas para com Deus, isto é, culpas ou pecados. Uma que vivemos sob a Sua graça e não lhe somos sempre fiéis. Mas o perdão que pedimos é condicionado pelo perdão que concedemos, ou não, aos nossos devedores.
“Não nos deixeis cair em tentação”. Aqui, “tentação” significa provação. Seremos julgados tendo em conta as nossas reações às provações da nossa vida.
“Livrai-nos do mal”. Há duas formas de traduzir esta petição: livrai-nos do mal ou livrai-nos do Maligno.
Nos tempos de Jesus, considerava-se que o Maligno, o demônio, estava por detrás de qualquer mal. Hoje não se pensa assim. Mas o confronto com o demônio é algo que faz parte da nossa experiência.
O ensinamento de Jesus é de rezar bem e sempre. A Bíblia nos diz: “Quem pede com persistência recebe; quem bate com insistência, abrir-se-lhe-á a porta; rezai para não cairdes em tentação; buscai em primeiro lugar o Reino dos Céus e a sua justiça e o resto vos será dado por acréscimo”.
O “Pai Nosso” é a oração de Jesus. Rezá-lo é comungar na oração do nosso Salvador. A oração do Filho tornou-se a oração dos filhos. Há que reaprender a rezá-lo com a emoção com que o rezam os recém-batizados nos primeiros tempos da Igreja. Há que rezá-lo, quanto isso é possível, com a emoção e o afeto com que o rezava o Filho de Deus feito homem.
Jesus nos ensina que – no nosso diálogo com o Pai – podemos enfrentar muitas tentações e que o silêncio de Deus pode nos parecer distante até o ponto de levantar os olhos e gritar: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” ou “Se for possível afasta de mim este cálice!” Mas não podemos desfalecer. Em tudo devemos gritar: “Pai nosso que estais nos céus!”
Padre Bantu Mendonça
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