O exigente caminho do discípulo que segue a Cristo
A caminhada que Jesus aqui inicia com os discípulos é mais teológica do que geográfica. Lucas não tem a pretensão de nos descrever os lugares por onde Jesus vai passar até chegar a Jerusalém. Seu objetivo é apresentar um itinerário espiritual, ao longo do qual Jesus vai mostrando aos discípulos os valores do Reino e os vai presenteando com a plenitude da revelação de Deus. É o caminho que terá o seu fim na Paixão, Morte e Ressurreição do Mestre. Portanto, trata-se do caminho no qual se vai irromper a Salvação definitiva. Como discípulos, somos exortados a seguir este caminho para nos identificarmos plenamente com Jesus.
Este caminho é penoso e exigente. Aliás, como se costuma dizer: “A rapadura é doce, mas não é mole não!”
Lucas apresenta – através do diálogo entre Jesus e três candidatos a discípulos – algumas das condições para percorrer, com Cristo, esse caminho que leva a Jerusalém, isto é, que leva ao acontecer pleno da Salvação.
O primeiro diálogo sugere que o discípulo deve despojar-se totalmente das preocupações materiais. Para o discípulo, o Reino tem de ser infinitamente mais importante do que as comodidades e o bem-estar material:
“As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”.
O segundo diálogo sugere que o discípulo deve desapegar-se desses deveres e obrigações que, apesar da sua relativa importância, impedem uma resposta imediata e radical ao Reino: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; mas tu, vai anunciar o Reino de Deus”.
O terceiro diálogo sugere que o discípulo deve desapegar-se de tudo, para fazer do Reino a sua prioridade fundamental. Nada – nem a própria família – deve adiar e demorar o compromisso com o Reino: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus”.
Não podemos ver estas exigências como normativas. Noutras circunstâncias, Ele mandou cuidar dos pais (cf. Mt 15,3-9); e os discípulos – nomeadamente Pedro – fizeram-se acompanhar das esposas durante as viagens missionárias (cf. 1 Cor 9,5). O que estes ensinamentos pretendem dizer é que o discípulo é convidado a eliminar da sua vida tudo aquilo que possa ser um obstáculo no seu testemunho cotidiano do Reino.
À nós, discípulos de Jesus, é proposto que O sigamos no caminho de Jerusalém. Pois é por ele que chegaremos à Salvação e à vida plena. Trata-se de um caminho que implica a renúncia de si mesmo, dos próprios interesses e orgulho; e um compromisso com a cruz, com a entrega da vida, com o dom de si e com o amor até às últimas consequências.
Padre Bantu Mendonça
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