A graça da renúncia amorosa

Jesus Cristo chegou ali, mais do que para
participar, mais uma vez, da Páscoa dos judeus, mas para celebrar e
estabelecer a Sua hora, a Sua Páscoa gloriosa, inaugurando,
potencialmente, a nossa páscoa. Pela Sua entrega total à vontade do Pai,
que beneficiou a humanidade toda com a salvação! Pela Sua Páscoa,
gregos e judeus, ou seja, todos os povos poderão ser redimidos e
participarem da Páscoa Eterna.
Uma maneira ordinária e eficaz para
sermos atingidos por este dom salvífico foi registrado pelo Evangelista
no versículo seguinte: “Quem se apega à sua vida, pede-a; mas quem não
faz conta de sua vida neste mundo, há de guardá-la para a vida eterna”
(Jo 12, 25). De fato, Aquele que abraçou a todos pela Sua Encarnação,
Vida, Paixão, Morte e Ressurreição, pede que seja abraçado também
radicalmente. Para isto é preciso estar desapegado de tudo e de todos,
que não significa descomprometido com o Reino, a Igreja e a humanidade.
O doutor e místico da Igreja, São João da
Cruz, ensinava que o verdadeiro amor consiste “na prática da renúncia
perfeita e o sofrer pelo Amado”. Este testemunho de pobreza radical, sem
dúvida, é dom do Alto, como a própria vivência de uma fé madura e em
constante purificação. E a quem Deus nega as suas graças? Se desejamos,
então…humildemente peçamos!
Jesus não foi para Jerusalém somente para
honrar o Pai das Misericórdias, mas, na força do Espírito Santo, viveu
uma comunhão obediencial plena, a fim de também conquistar para nós, por
Seus méritos, o direito de sermos, um dia, honrados pelo Pai,
independente dos reconhecimentos humanos. no entanto, poderíamos dizer:
“Eu não quero qualquer tipo de honrarias?”, mas este tipo de honra não
massageia o nosso ego nem alimenta nosso orgulho, ao contrário,
corresponde à vontade de Deus a nosso respeito: “Se alguém me serve, meu
Pai o honrará” (Jo 12, 26). Esta honra é expressa do amor de um Pai que
quer recompensar os filhos amados, salvos pelo Filho Amado!
Por isso todo e qualquer sofrimento que
passarmos para viver aqui como verdadeiros filhos, servos e amigos de
Cristo Pascal, será revertido em glória um dia. Para tal será preciso
permanecer até o fim na busca orante e repleta do exercício da renúncia
amorosa, da maneira ensinada também por São João da Cruz, acima citado.
Portanto, existirá um caminho mais estreito e seguro do que este: “Se
alguém quer me servir, siga-me; e onde eu estiver, estará também aquele
que me serve” (Jo 12, 26).
Por fim, diante da nossa pequenez e
grande tendência a nos apegarmos a tudo o que é visível e palpável, como
também prazeroso, no risco de perdermos o essencial salvífico e pascal,
prossigamos o caminho como discípulos e missionários, recordando uns
aos outros as palavras que nos recoloca humildemente em condições de
luta e recompensa: “Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a
força se realiza plenamente” (2Cor 12, 9).
Padre Fernando Santamaria
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